Joanesburgo - Winnie
Mandela, ex-esposa do sul-africano Nelson Mandela, faleceu aos 81 anos
em decorrência "de uma longa doença", nesta segunda-feira, em um
hospital de Joanesburgo, anunciou seu porta-voz. Eles se casaram em 1958
e se divorciaram em 1996.
"É com grande tristeza que informamos ao público que a
Sra. Winnie Madikizela Mandela faleceu no hospital Milkpark de
Joanesburgo na segunda-feira, 2 de abril", declarou Victor Dlamini em um
comunicado.
Nelson Mandela foi presidente da África do Sul entre 1994 a 1999, e morreu aos 95 anos, em Pretória.
Indomável e carismática, Winnie Madikizela-Mandela,
tornou-se um importante rosto da luta anti-Apartheid ao assumir a
bandeira de seu marido Nelson Mandela na prisão, antes de derrapar e ser
acusada de tortura.
O percurso de Nomzamo Winifred Madikizela Zanyiwe,
conhecida sob o nome de "Winnie", é indissociável do primeiro presidente
negro da África do Sul, com quem foi casada por 38 anos, incluindo os
27 que ele esteve na cadeia.
Nascida em 26 de setembro de 1936, na província de Cabo
Oriental (sul), de onde Nelson Mandela também é natural, obteve diploma
universitário em Serviço Social, uma exceção para uma mulher negra na
época.
Seu casamento em junho de 1958 com Nelson Mandela - ela
com 21 anos e ele, divorciado e pai, com quase 40 - foi rapidamente
perturbado pelo engajamento político de seu marido.
"Nunca tivemos uma vida familiar (...) não podíamos
tirar Nelson de seu povo. A luta contra o Apartheid, pela Nação, vinha
primeiro", escreveu ela em suas memórias.
Logo depois do casamento, Nelson Mandela passou à
clandestinidade. Deixada sozinha com suas filhas após sua prisão em
agosto de 1962, Winnie manteve viva a chama da luta contra o regime
racista branco.
A jovem assistente social foi, então, alvo de
intimidações e pressões. Viu-se presa, forçada a ficar em casa, banida
em um vilarejo distante do mundo, onde sua casa foi alvo de dois ataques
a bomba.
'Passional'
Mas nada abalava sua resistência. Contra todas as
probabilidades, tornou-se uma das principais figuras do Congresso
Nacional Africano (CNA), a ponta de lança da luta contra o Apartheid.
Em 1976, convocou os estudantes de Soweto revoltados a "lutar até o fim".
Com o tempo, a radical "paixão dos townships" se revelou, porém, uma desvantagem e um constrangimento para o CNA.
Enquanto supostos traidores da causa anti-Apartheid
eram queimados vivos com um pneu no pescoço, ela dizia que os
sul-africanos deveriam se libertar com "caixas de fósforos". Um
verdadeiro chamado ao assassinato.
Winnie se cercou de um grupo de jovens, formando sua
própria guarda, o "Mandela United Football Club" (MUFC), com métodos
particularmente brutais.
Em 1991, foi considerada culpada de cumplicidade no
sequestro do jovem ativista Stompie Seipei. Winnie foi condenada a seis
anos de prisão, uma sentença mais tarde comutada para uma multa simples.
Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC)
encarregada dos crimes políticos do Apartheid declarou Winnie "culpada
política e moralmente pelas enormes violações dos direitos humanos"
cometidas pelo MUFC.
"Grotesco", repete aquela apelidada de "Mãe da Nação", mesmo que testemunhas a acusassem de tortura.
'Algo deu terrivelmente errado'
"Ela foi uma formidável defensora da luta, um ícone da
libertação", disse Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz,
presidente da TRC e amigo de Nelson Mandela. "E, então, algo deu
terrivelmente errado", reconhece.
Nomeada vice-ministra da Cultura após as primeiras
eleições multirraciais de 1994, Winnie foi demitida por insubordinação
pelo governo de seu marido um ano depois.
Banida pela liderança do CNA, sentenciada novamente em
2003 por fraude, Winnie ainda retornou à política quatro anos depois,
juntando-se ao Comitê Executivo do partido, o corpo administrativo do
CNA.
Multiplicam-se as contradições. Deputada desde 1994 e reeleita em cada eleição, sua ausência no Parlamento chama atenção.
Ela critica severamente o acordo histórico assinado por
seu marido com os brancos para pôr fim à segregação. "Mandela nos
abandonou", afirmava. "O acordo que ele fez é ruim para os negros",
insistia.
A imagem do casal Mandela, marchando de mãos dadas após
a libertação do herói anti-Apartheid em 1990, viajou pelo mundo. Mas os
cônjuges nunca se encontraram. Eles finalmente se divorciaram em 1996
após um processo sórdido que revelou as infidelidades de Winnie.
A animosidade continuou mesmo após a morte de Nelson Mandela em 2013. Ele não deixou nenhuma herança para a ex-mulher.
Furiosa, Winnie iniciou uma batalha para recuperar a
casa da família em Qunu (sul). Recentemente, a Justiça rejeitou seus
pedidos.
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