A confirmação de que o candidato Sarto Nogueira (PDT) está infectado com Covid-19 coloca em alerta o cenário político de Fortaleza. Há menos de 40 dias das eleições, o diagnóstico limita as ações do nome governista na disputa pela Prefeitura por cerca de duas semanas. Do lado dele das trincheiras, entram em cena aliados de peso para tentar manter o ritmo de campanha. Já os adversários buscam redobrar os cuidados para continuar nas ruas, mas evitando serem os próximos contaminados.
O estado de saúde do pedetista é considerado estável. Em comunicado divulgado, ele disse estar bem e sentindo apenas sintomas leves. O político também orientou a todos que tiveram contato com ele que busquem postos de testagem em Fortaleza. "A pandemia diminuiu, mas o vírus ainda circula", destacou. Até o diagnóstico, na segunda, a agenda do candidato foi intensa. Em uma semana de campanha, participou de três "adevisaços", sete visitas a equipamentos públicos, seis carreatas e sete inaugurações de comitês.
Para os próximos dias, o vice da chapa liderada por Sarto, Élcio Batista (PSB), avalia que o ritmo não deve diminuir. "As agendas nas ruas serão mantidas", afirmou. Segundo ele, para tentar compensar a ausência física do companheiro, aliados estarão nos eventos. "Nas agendas de rua, eu participarei ao lado do prefeito Roberto Cláudio (PDT)", informou.
A presença de Élcio, no entanto, depende de ele também não estar infectado. O vice foi submetido a um exame para detectar a Covid-19, que deu negativo, mas permanece em isolamento social até o resultado da contraprova, que deve ser realizada hoje. "Sarto conduzirá encontros virtuais e continuará na condução do projeto. Essas agendas múltiplas proporcionarão ainda mais capilaridade aos nossos debates e encontros", garante Élcio.
Fator desconhecimento
Mesmo com os rearranjos para manter o ritmo da campanha, para a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, o desafio de comandar o Palácio do Bispo se torna maior para a chapa governista. No domingo (4), véspera do diagnóstico, Sarto reconheceu que o fato de nunca ter sido candidato a cargo majoritário faz com que seu nome tenha um "índice de desconhecimento grande".
Agora, para a analista política, é preciso balancear a imagem que será construída do candidato. "O maior desafio será construir uma imagem própria, que não repita o que aconteceu com Elmano de Freitas (PT), em 2016, chamado de 'poste da Luizianne Lins'", relembrou. "Mesmo que esses cabos eleitorais (pedetistas) apareçam e tentem reforçar a visibilidade, Sarto precisará construir uma imagem própria, porque enfrenta competidores com um recall muito significativo", avaliou.
Para isso ocorrer, segundo Monalisa Torres, é provável que haja uma redução dos eventos presenciais e um aumento dos virtuais. Essa migração deve atingir não só a chapa do PDT, mas também de outros candidatos. Desde que anunciou estar infectado, Sarto recebeu mensagens de solidariedade nas redes sociais, inclusive de adversários. Capitão Wagner (Pros), Renato Roseno (Psol), Heitor Férrer (SD), Heitor Freire (PSL), Luizianne Lins (PT) e Anízio Melo (PCdoB) desejaram melhoras ao político.
Prevenção na campanha
Mesmo ressaltando que adotam medidas sanitárias para prevenir a saúde dos eleitores e da própria equipe, alguns candidatos reconhecem os riscos de sair às ruas em busca de votos. "O carinho das pessoas com a nossa campanha é muito grande e isso exige que redobremos os cuidados", disse Luizianne Lins.
Adepto das caminhadas no Centro, Férrer também ressalta o desafio de atender o eleitorado. "Quem é candidato está mais exposto porque as pessoas querem dar abraço, aperto de mão, e não negamos. Fica esquisito. Tenho tentado conter, mas é um alerta para todos nós candidatos", admitiu.
Heitor Freire e Samuel Braga (Patriota) disseram que seguirão com os eventos programados sem alterações nos próximos dias. Ontem, Freire esteve na Praça do Ferreira e gerou uma pequena aglomeração. "Algumas coisas não estão no nosso controle", declarou.
Por outro lado, há candidatos que já admitem mudar o ritmo de campanha. É o caso de Anízio. Ele afirmou que irá aumentar o uso de equipamentos de segurança, articulando atividades com mais participações nas plataformas digitais.
Renato Roseno também alerta para a necessidade de redobrar os cuidados. "É uma obrigação para além da campanha, é uma obrigação ética de todos nós", ressaltou. "É necessário estar na rua, mas também precisamos preservar a vida. Seguiremos com a campanha, mas teremos mais cuidado com a pandemia", disse a candidata da UP, Paula Colares.
Célio Studart (PV) e Wagner foram procurados pela reportagem, mas não responderam até o fechamento desta edição. O candidato do PCO, José Loureto, não foi encontrado.
Primeira-dama
A primeira-dama do Estado, Onélia Santana, foi diagnosticada com Covid-19. O resultado foi anunciado nas redes sociais pelo governador Camilo Santana (PT).
Isolamento
Camilo testou negativo para a Covid-19. Ele relatou que a primeira-dama está em isolamento domiciliar com sintomas gripais.
Número de casos pode aumentar na campanha
Abraços, apertos de mão e aglomerações fazem parte da rotina de campanhas eleitorais há décadas. Em um momento atípico de pandemia causada pelo coronavírus, que se espalha rapidamente em ambientes deste tipo, o infectologista Keny Colares alerta para a possibilidade de uma alta no número de casos. Apesar da velocidade de contágio estar estabilizada no Ceará, o médico do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) explica que, assim como em outros locais do mundo, uma nova onda de infecções pode acontecer no Estado. "Se vai ser a campanha eleitoral a responsável por isso, só vamos saber depois. Mas o ideal é que a gente evite, que a gente não pague para ver", diz.
Keny recomenda que sejam evitadas as saudações com toques, preservada a distância de pelo menos um metro entre as pessoas, além de continuar utilizando máscaras e higienizando as mãos com álcool em gel frequentemente. Para o eleitor, o médico orienta que "pense duas vezes" antes de ir em locais com aglomerações, buscando formas alternativas de apoiar os candidatos. "O ideal mesmo é que não tivesse isso acontecendo, porque certamente vai ter gente que vai adoecer e os próprios candidatos acabam se tornando as pessoas que mais se arriscam", pondera.
Para ele, trocar interações presenciais por momentos virtuais com eleitores é o mais indicado. Carreatas, prática comum nas eleições tanto na Capital como no Interior, podem ser mais seguras, já que as pessoas ficam distantes uma das outras. No entanto, ele atenta para as aglomerações durante a concentração, no início ou no fim do evento. Keny considera necessário que os candidatos pensem em uma forma de fazer a campanha preservando as condições de segurança sanitária.
No sábado (3), o governador Camilo Santana (PT) atualizou as regras do decreto estadual sobre eventos sociais e shows. Ficou liberado a presença de até 200 pessoas em ambientes abertos em Fortaleza e nas cidades da Macrorregião de Saúde da Capital. Em locais fechados, a capacidade máxima é de 100 pessoas. As medidas sanitárias continuam sendo obrigatórias. A decisão deve afetar os eventos de campanha nos mais de 40 municípios da região.
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