O chefe da GDE comandava o tráfico e expulsava moradores na comunidade Babilônia
Uma vida de luxo, com carro importado blindado, joias pelo corpo, proteção de seguranças e morando em um apartamento na Beira-Mar. Assim estava vivendo um dos bandidos mais procurados pela Polícia no Ceará; traficante e homicida Auricélio Sousa Freitas, o “Celinho” ou “Celim da Babilônia”. Segundo as autoridades, ele é um dos fundadores e chefes da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE). Agora está atrás das grades e deve responder por dezenas de assassinatos ocorridos em Fortaleza nos últimos anos em Fortaleza, entre eles, a chacina no “Forró do Gago”, no bairro Cajazeiras, onde 14 pessoas foram mortas a tiros na madrugada de 27 de janeiro último, a maior matança já registrada no estado.
Cunhado de outro traficante não menos famoso em Fortaleza, o ex-presidiário João Bosco da Rocha, o “João Presinha”, chefe do tráfico no bairro Lagamar, Auricélio Sousa Freitas foi capturado no começo da noite desta quarta-feira (11), numa operação que envolveu exclusivamente o Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), do Comando do Policiamento Especializado (BPE).
O traficante estava sozinho e dirigia seu veículo, um Corolla preto, blindado, pelas ruas e avenidas da zona nobre da Capital cearense. Além do carro de luxo, o bandido usava cordão de ouro puro, grosso, numa demonstração de ostentação. Não sabia que estava sendo seguido por policiais à paisana e em carros descaracterizados do Serviço Reservado (de Inteligência) do BPChoque. O próprio comandante do batalhão, tenente coronel PM Cícero Henrique Bezerra, estava à frente da operação.
Quando o traficante parou o carro na Avenida Pontes Vieira, em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, no bairro Dionísio Torres, os homens da Inteligência do BPChoque o cercaram e receberam de imediato o apoio de patrulhas do Comando Tático Motorizado (Cotam). Sem chances de fuga ou de fazer reféns, “Celim da Babilônia” se entregou.
Bandido caçado
O criminoso era caçado há, pelo menos, dois anos. Com a ajuda de seus “soldados” (fortemente armados) se instalou no Condomínio Residencial Novo Barroso, batizado pelos próprios bandidos de “Babilônia”, um conjunto de apartamentos erguido pelo programa federal “Minha Casa, Minha Vida” na área do Grande Jangurussu, na zona Sul de Fortaleza. E lá instalou seu QG para traficar drogas, esconder e alugar armas, ordenar assassinatos e abrigar bandidos de sua facção foragidos dos presídios. Para isso, ordenou a expulsão de moradores, desafiando as autoridades.
Mas, com a recente medida tomada pelo governo para a PM ocupar a área permanentemente, “Celim” teve que se mudar e foi morar na orla da cidade. Deixou um “gerente” tomando de conta da “Babilônia” e ia lá somente uma ou duas vezes por semana. Na semana passada, o bandido voltou ao local para reorganizar as finanças do tráfico e chegou a “bater boca” com o gerente.
Era dia de jogo do Brasil. A Polícia foi informada da presença do criminoso, mas ele montou uma rápida estratégia: mandou que os traficantes fossem para o outro lado da favela e disparassem rajadas de metralhadoras. Havia cerca de 10 viaturas da PM no local. A estratégia deu certo. Atraídos pelos tiros, os policiais saíram em busca dos atiradores e o “chefão” escapou pelo outro lado.
Mortes em série
Com a guerra declarada contra o Comando Vermelho (CV), “Celim” ordenou a execução de muitos inimigos na área entre o Barroso, Jangurussu e a Grande Messejana, segundo informam as autoridades. As mortes e tiroteios viraram uma rotina naquela área da cidade em 2017, e os moradores passaram a ser expulsos de seus imóveis, até que o governo ordenou a ocupação da PM 24 horas no local. Mas foi na madrugada do dia 27 de janeiro que ocorreu a matança maior.
Uma festa de músicas funk foi organizada pelo Comando Vermelho (CV) no “Forró do Gago”, na comunidade do Barreirão, no bairro Cajazeiras. O local costumava ser palco de shows de bandas de forró e pagode nos fins de semana. Mas, naquela noite do dia 26 para a madrugada do dia 27, o local virou palco de uma fuzilaria. Oito mulheres e seis homens foram assassinados de forma brutal, sem nenhuma chance de defesa. Quando a Polícia chegou no local encontrou um amontoado de cadáveres e dezenas de cápsulas de balas de pistola, fuzil e submetralhadoras espalhadas pelo chão, além de balotes deflagrados de escopetas (espingardas de calibre 12).
No andamento da investigação sobre a chacina veio a revelação de que a festa organizada pelo CV foi destruída por ordem dos chefões da GDE. Daquele dia em diante, “Celim da Babilônia” passou a ser caçado. Ele já tem um advogado e, certamente, vai negar tudo.
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