A mãe de Vitor Augusto Marcos de Oliveira, morto após horas aguardando em hospital de São Paulo por equipamento para pacientes obesos, revoltou-se ao descobrir, pouco antes do enterro, que o caixão do filho foi preenchido com pó de serra, caixotes de madeira e folhas de jornal para a nivelação do corpo dentro da estrutura.
Vitor, que tinha 25 anos, faleceu no último dia 5 de janeiro, na frente do Hospital Geral de Taipas, na Zona Norte de São Paulo. No local, ele esperou por atendimento em meio à falta de maca que possibilitasse a entrada de pacientes obesos. O jovem já havia tentado em seis unidades de saúde no mesmo dia.
Em lamento, a mãe da vítima voltou a citar as dificuldades vividas por ele nos últimos dias e a falta de respeito mesmo após a morte. "Eu não tinha descoberto essa fraude. Brincaram de novo com o peso do meu filho. Mais uma vez, gordofobia. Meu filho estava em cima do lixo", declarou.
INVESTIGAÇÃO DO CASO
Responsável pelo caixão, a funerária Trianon afirmou ao g1 que não tinha responsabilidade pela urna, apenas pelo transporte do corpo. Assim, afirmou que a preparação do corpo de Vitor ficou a cargo da cooperativa de tanatopraxia Cooperaf.
A cooperativa em questão afirmou ao portal que o nivelamento do corpo com os itens citados, como papéis e pó de serra, são práticas habituais, mas se recusou a repassar mais informações. O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF), Lourival Panhozzi, no entanto, declarou que o protocolo em questão está absolutamente fora dos padrões.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou, em nota ao g1, que as imagens do caso já se encontram sob análise, com diligências em andamento.
"Exames periciais foram solicitados, e estão em fase de elaboração, e serão analisados pela autoridade policial tão logo forem concluídos", aponta o comunicado.
MOTIVO PARA FALTA DE ATENDIMENTO
Além da investigação sobre o caixão, o Ministério Público do Estado de São Paulo instaurou, na última segunda-feira (9), inquérito contra as secretarias municipal e estadual da Saúde para apurar a morte de Vitor.
O órgão pede explicações como o motivo para que o paciente tenha sido mantido na ambulância, como o atendimento teria ocorrido em outras unidades de saúde, quantas macas especiais haviam nessas localidades e quais as providências tomadas após o caso.
Antes da morte de Vitor, seis hospitais recusaram atendimento. Consultados pelo sistema de regulação de leitos, eles negaram a transferência do paciente sob alegações de superlotação ou falta de equipamentos necessários para obesos.
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