Há pouco mais de um mês, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarava a pandemia de coronavírus, que, à época, havia infectado mais de 110 mil pessoas. Desde então, os principais líderes políticos globais têm adotado medidas restritivas e defendido o isolamento social como forma de conter o avanço da COVID-19, doença que, de acordo com dados Universidade John Hopkins, dos EUA, já registra mais de 1,8 milhão de casos. No Brasil, porém, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem desrespeitado as recomendações das autoridades de saúde internacionais, ido às ruas e causado aglomerações frequentes.
Desde que a OMS declarou a pandemia, em 11 de março, o chefe do Executivo nacional desrespeitou publicamente as orientações, em média, mais de uma vez por semana. Foram ao menos oito oportunidades em que Bolsonaro foi flagrado ignorando recomendações de órgãos, como, por exemplo, o próprio Ministério da Saúde, pasta chefiada por Luiz Henrique Mandetta.
Manifestação
À época, Bolsonaro estava sob monitoramento por suspeita de contaminação pelo coronavírus e, por isso, deveria evitar contato social. Apenas quatro dias antes, o presidente havia voltado dos Estados Unidos. Na viagem, 22 pessoas do grupo que o acompanhava contraíram a COVID-19.
“Eu não vou viver preso dentro lá do Palácio da Alvorada esperando mais cinco dias, com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil. Essa é minha posição. Agora, se eu resolvi apertar a mão do povo – desculpe aqui, eu não convoquei o povo para ir às ruas –, isso é um direito meu. Afinal de contas, eu vim do povo. Eu venho do povo brasileiro”, justificou-se, um dia depois. Ele, porém, havia defendido a promoção dos protestos num ato público em Roraima.
“Eu não vou viver preso dentro lá do Palácio da Alvorada esperando mais cinco dias, com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil. Essa é minha posição. Agora, se eu resolvi apertar a mão do povo – desculpe aqui, eu não convoquei o povo para ir às ruas –, isso é um direito meu. Afinal de contas, eu vim do povo. Eu venho do povo brasileiro”, justificou-se, um dia depois. Ele, porém, havia defendido a promoção dos protestos num ato público em Roraima.
Entrevistas no Palácio da Alvorada
Com frequência, Jair Bolsonaro tem concedido entrevistas coletivas na saída do Palácio da Alvorada. Porém, além de profissionais da imprensa, o local costuma receber aglomerações de apoiadores. Na maioria das vezes, o presidente conversa com as pessoas, mas mantém distância.
Ao menos em duas delas, contudo, Bolsonaro foi em direção aos apoiadores. Em 25 de março, o presidente, após a entrevista, se aproximou das pessoas para tirar fotos. Em 2 de abril, cumprimentou um deles com um “soquinho”. Os vídeos que comprovam esses momentos foram publicados pelo próprio chefe do Executivo nas redes sociais.
‘Indireta’ a Mandetta?
Em 28 de março, Luiz Henrique Mandetta foi categórico: as pessoas devem ficar em casa para reduzir a velocidade de propagação do vírus. “Se a gente sair andando todo mundo de uma vez, vai faltar para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse. No dia seguinte, Bolsonaro foi às ruas de Brasília e causou aglomerações.
O presidente passou por uma farmácia e uma padaria antes de ir ao Hospital das Forças Armadas e ao Centro de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal (veja no vídeo abaixo). "Passei por lá também para ver como estava o fluxo de pessoas porventura chegando", disse, ao ser questionado sobre o motivo do passeio. A atitude soou como uma “indireta” a Mandetta, de quem Bolsonaro discorda sobre a melhor forma para combater a pandemia no Brasil.
Alinhado com a OMS, o ministro orienta um confinamento social mais abrangente, com o objetivo de reduzir a velocidade da propagação do vírus e evitar o colapso do sistema de saúde nacional. Já Bolsonaro contraria as principais autoridades da saúde e defende o que ele chama de “isolamento vertical”, em que apenas pessoas dos grupos de risco (idosos e portadores de doenças crônicas) devem ficar em casa.
Oração
No dia 5 de abril, Bolsonaro participou de uma oração que formou aglomeração em Brasília (veja no vídeo acima). O presidente tirou fotos, rezou pelo fim da pandemia, declarou o fim de um “jejum religioso” que havia anunciado e ainda mandou outra indireta a Mandetta: “Algumas pessoas no meu governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona”, ameaçou.
Dias seguidos
Na última semana, Bolsonaro voltou a ignorar as recomendações das autoridades de saúde em três dias consecutivos. Na quinta-feira, foi a uma padaria em Brasília (veja no vídeo abaixo). Por lá, abraçou pessoas e tirou fotos. Depois, apresentou o motivo de ter desrespeitado as orientações. “Parei em uma padaria agora para tomar uma Coca-Cola”, disse. Houve manifestações de apoio e vaias.
No dia seguinte, Bolsonaro voltou às ruas da capital federal. Desta vez, para ir ao Hospital das Forças Armadas, a uma farmácia e, em seguida, ao prédio onde mora o filho Renan, o mais novo (veja no vídeo abaixo). Em determinado momento, limpou o nariz com a mão e, em seguida, cumprimentou pessoas, entre elas uma idosa. No caminho, o presidente ouviu aplausos e vaias. Depois, nas redes sociais, ironizou jornalistas que o acompanharam: "Contrariando normas da Saúde, os repórteres se aglomeraram".
No sábado, Bolsonaro desrespeitou publicamente as orientações pela oitava vez desde que a pandemia foi declarada pela OMS. O presidente causou aglomerações na cidade goiana de Águas Lindas ao ir em direção a apoiadores que o esperavam sair de uma visita a obras de um hospital de campanha.
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