Empresas de medicamentos, próteses e outros materiais estão entre os que aguardam pagamento total de débitos
O cenário que levou à falta de medicamentos, insumos, alimentação e até de lençóis no Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, ao final de 2024, tem efeitos que ainda perduram. Um deles é a dívida herdada pela atual gestão: mais de R$ 60 milhões ainda estão com pagamento pendente.
Segundo a médica Riane Azevedo, superintendente do IJF, o hospital chegou a 2025 com um débito de R$ 73 milhões junto a empresas de medicamentos, lavanderia, próteses e órteses e até de pessoal. Do total, até agora, foram pagos “de R$ 9 a 10 milhões”.
“O hospital devia muitas empresas, como a lavanderia, desde abril de 2024. E a gente precisava que voltassem a abastecer mesmo sem termos dinheiro pra pagar tudo de uma vez”, pontuou Riane, em entrevista ao Diário do Nordeste e à Verdinha FM 92.5, na manhã desta terça-feira (8).Na última quinta-feira (3), usuários e trabalhadores da unidade de saúde denunciaram que, apesar da melhora no cenário, continua ocorrendo falta de medicação, como anestésicos e antibióticos, além de insumos como materiais para curativos.
O desabastecimento do IJF, que culminou na necessidade de acompanhantes comprarem gaze, materiais para curativos e até remédios básicos para dor, teve raiz: a farmácia da unidade de saúde chegou a funcionar com menos de 20% do estoque total, segundo Riane.
“Nossa ideia foi focar em pagar o abastecimento do hospital e a alimentação, que são os serviços essenciais. Não tem como pacientes, acompanhantes e corpo clínico estarem lá sem comida”, inicia.
“Depois, os profissionais. As pessoas têm que trabalhar e receber. Muitos colaboradores terceirizados recebem um salário mínimo, não têm lastro pra viver 3 meses sem receber”, acrescenta a superintendente.
A gente precisava dizer que as empresas continuassem fornecendo durante 2025, e que 2024, assim que transcorresse toda a burocracia, a gente ia honrar. Temos fornecedores multinacionais, quem é IJF pra eles? Empresas daqui têm dimensão, as de fora não. Fizemos o trabalho de conversar. Hoje, está resolvido.
Riane confirma que “lençol acabou mesmo”, e justifica que “a empresa trazia pouca quantidade, com medo de o hospital não pagar”. Porém, segundo a médica, a rouparia está reabastecida.
“Mas a gente precisa dizer às pessoas que cada paciente tem que pegar no máximo dois lençóis, senão falta pra alguém. Fazemos esse trabalho de conscientização”, observa.
Alta complexidade, alto custo
Os repasses estadual e federal ao IJF aumentaram, neste ano. O Governo do Estado ampliou o aporte mensal de R$ 6 mi para R$ 10 milhões, totalizando R$ 120 milhões por ano. Já o Ministério da Saúde aportou R$ 180 milhões ao IJF para 2025.
O orçamento total para funcionamento da unidade aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano foi de R$ 729,5 milhões, 13% acima dos R$ 643,8 milhões previstos na LOA de 2024. Foi o maior aumento desde 2021, ano pandêmico.
O custo mensal para manter o funcionamento do instituto, conforme estima a superintendente, é de R$ 55 milhões, “pagando tudo: folha, medicamentos, órteses e próteses e materiais”.
“O hospital tem um custo bastante elevado pela alta complexidade. Isso faz com que os profissionais envolvidos tenham custo elevado”, explica a gestora.
Riane cita que, além de serviços implementados pelo IJF, como implantes de membros em pacientes acidentados, há compromissos da unidade firmados junto ao Governo Federal e que precisam ser cumpridos.
fonte; diário do nordeste
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