Cada um dos últimos oito anos foi mais quente do que todos os registros conhecidos até agora, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado neste domingo (6), na abertura da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), no Egito.
O relatório da OMM é uma “crônica do caos climático”, fenômeno que “está ocorrendo em velocidade catastrófica, devastando vidas em todos os continentes”, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, em mensagem de vídeo transmitida na COP27 em Sharm el-Sheikh.
“No início da COP27, nosso planeta nos envia um sinal de alarme”, disse Guterres.
Para contrariar esta situação alarmante, serão necessárias "ações ambiciosas e credíveis" durante a conferência no Egito, acrescentou. A temperatura média do planeta, comparada à era pré-industrial, já subiu 1,15 °C.
"De quantos alertas os líderes ainda precisam?", questionou Alok Sharma, presidente da conferência passada (COP26), em uma pergunta que deu o tom do discurso de abertura da COP27. "Há muito mais a ser feito nesta década crítica", completou.
Sharma clamou que a conferência seja de "ação concreta" e frisou que progredir é possível. "Precisamos acelerar esse progresso no restante desta década decisiva. Mas acredito que podemos. Sabemos o que precisamos fazer para manter [a meta de] 1,5 °C viva. Nós sabemos como fazer".
LA NIÑA
O ano de 2022 será o quinto ou sexto mais quente conhecido, com base nos registos oficiais, e isso "graças" à influência, pelo terceiro ano consecutivo, do fenômeno oceânico La Niña, que provoca uma diminuição das temperaturas em algumas regiões do planeta.
O La Niña "não está revertendo a tendência de longo prazo; é apenas uma questão de tempo até que um novo ano mais quente chegue", insistiu a OMM, uma agência especializada da ONU.
A avaliação final virá em 2023, mas a OMM já alerta que “os oito anos de 2015 a 2022 provavelmente serão os mais quentes já registrados” até o momento.
A temperatura média durante a década de 2013-2022 é estimada em +1,14 °C em comparação com a era pré-industrial. Os especialistas estimam que cada décimo de grau de aumento na temperatura tem um efeito multiplicador em eventos climáticos extremos.
"As concentrações de CO2 na atmosfera são tão altas que a meta de 1,5 °C é quase inatingível", comentou o chefe da OMM, Petteri Taalas. "Já é tarde demais para muitas geleiras, e o derretimento continuará por centenas, ou mesmo milhares de anos, o que terá grandes consequências no abastecimento de água", acrescentou.
As notícias sobre o aumento do nível dos oceanos também não são boas, devido ao derretimento das calotas polares. Desde janeiro de 2022, o nível dos oceanos aumentou 10 mm, o que equivale a 10% do aumento registrado desde que as medições por satélite começaram há quase 30 anos. E o ritmo dobrou desde 1993.
EPISÓDIOS CLIMÁTICOS CATASTRÓFICOS EM 2022
"Sabemos que, alguns desses desastres, como as inundações e o calor no Paquistão, as inundações e os ciclones no sul da África, o furacão Ian, as ondas de calor e a seca na Europa, não teriam sido tão graves se não fossem as mudanças climáticas", aponta Friederike Otto, climatologista do Imperial College de Londres.
As emissões de metano, por exemplo, gás com grande efeito estufa, aumentaram drasticamente no ano passado, com a retomada da atividade econômica global, após a pausa causada pela Covid-19.
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