Uma carta enviada pela White Martins ao governo do Amazonas no dia 16 de julho de 2020 mostrou que o estoque de oxigênio fornecido pela empresa ao estado não suportaria um colapso na saúde pública, como aconteceu em janeiro de 2021. O documento foi discutido na sessão da CPI da Covid nesta quarta-feira (15), durante o depoimento do ex-secretário de saúde Marcellus Campelo.
No documento, que buscava a renovação do contrato da White Martins com o estado, o gerente executivo de negócios da empresa, Petrônio Bastos, assim escreveu:
"Avaliando os volumes [de oxigênio] contratados por Vossas Senhorias, já pudemos constatar que os mesmos não suportarão o consumo que atualmente estão praticando. Por outro lado, preocupa-nos que, neste momento excepcional, de tão alta demanda, há possibilidade de termos que tomar a difícil decisão de atender os clientes em seus limites, prazos e condições comerciais contratadas", escreveu.
Bastos também chegou a sugerir que o governo providenciasse o acréscimo dos volumes de oxigênio contratados pelo estado em 25%: "Pedimos suas urgentes medidas, para não haver fornecimento sem cobertura de saldo contratual", finalizou.
Marcellus Campêlo durante depoimento para CPI da Covid — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Em depoimento à CPI nesta quarta, o ex-secretário de saúde Marcellus Campelo disse que a possibilidade da falta de oxigênio no estado só foi notificada pela empresa no dia 7 de janeiro, mas que a própria White Martins afirmou que estava providenciando o envio de mais insumos vindos de Belém.
"Ela [White Martins] afirmou para mim e para a nossa equipe que, a partir do sábado, dia 9 [de janeiro], chegaria a primeira balsa de abastecimento com 52 mil metros cúbicos de oxigênio vinda de Belém e, a partir daquela data, a cada dois dias, chegariam novas balsas, novos carregamentos de oxigênio para dar segurança ao fornecimento da rede", explicou.
A fala gerou revolta do senador Eduardo Braga, que apresentou a carta da White Martins enviada ao governo alegando que o consumo do oxigênio era alta e poderia faltar em determinado momento.
"Há documentos que esta CPI tem da White Martins, da secretaria, dizendo que em julho ela já estava preocupada com a explosão de consumo. Portanto, nós estamos falando de julho de 2020, e as pessoas morreram por falta de oxigênio a partir do dia 8, dia 9 de janeiro de 2021, seis meses pra providenciar o oxigênio", disse.
Braga também afirmou que o problema do oxigênio não era apenas de janeiro, mas que o consumo vinha crescendo de forma exponencial no estado, desde julho, quando houve a primeira sinalização da empresa.
"Em julho, o fornecimento já estava em 413 mil metros cúbicos, já tinha praticamente dobrado – em julho! –, e a secretaria tem conhecimento disso. Em agosto, mais de 400 mil; em setembro, mais de 400 mil, 424 mil; e, aí, em outubro, 424 mil, mas, quando chega em novembro, já vai para 505 mil, vai para 582 mil. Esse crescimento não foi como está dito aqui: "Ah, cresceu do dia 7 para o dia 9". Não! Houve tempo, houve notificação".
A crise do oxigênio afetou o Amazonas durante a segunda onda da pandemia da Covid-19, em janeiro deste ano. A capital já vivenciava um aumento progressivo no número de casos da doença desde dezembro, o que lotou os hospitais de referência em janeiro. Com o grande volume de internações, já não havia mais o insumo para os doentes que dependiam dele para seguir o tratamento.
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