A divulgação clara da estratégia permitiria maior acompanhamento social, cobrança por novas medidas e ajustes necessários
A capacidade de uma cidade em suprir as necessidades básicas de sua população é um indicador relevante do seu nível de desenvolvimento urbano. Por outro lado, a presença de problemas sociais acentuados reflete um cenário de pobreza e, consequentemente, uma menor qualidade de vida. Nesse contexto, a existência de um número significativo de famílias ocupando áreas inadequadas — como viadutos e pontes — representa uma ferida exposta no tecido urbano das metrópoles brasileiras, incluindo Fortaleza.
Diante desse cenário, considero positivas as ações da atual gestão municipal, especialmente no atendimento às mais de 40 famílias que viviam em situação de vulnerabilidade sob o viaduto da BR-116/Avenida Borges de Melo. Medida semelhante já havia sido adotada anteriormente no entorno do viaduto da Via Expressa, demonstrando uma linha de atuação coerente. Alguns enxergam a questão apenas como uma forma de "higienizar" a paisagem urbana, eliminando a "feiura" associada a esse modelo de produção do espaço. Quem defende essa perspectiva não se preocupa com o destino das famílias removidas, mas sim com a conveniência de não mais ver o problema. Espero que esse não seja o princípio orientador das políticas públicas em Fortaleza.
Em contrapartida, uma gestão urbana comprometida com ideias socialmente emancipadoras entende que a remoção é apenas o início de um processo mais amplo, que deve incluir ações integradas nas esferas social, econômica e habitacional.
No âmbito social, é fundamental garantir condições mínimas para a efetivação de direitos básicos, como acesso à educação, benefícios sociais e atendimento psicosspecializado.
No campo econômico, sugere-se a formação de parcerias público-privadas para capacitação profissional e inserção dos adultos em empregos formalizados.
Quanto à habitação, propõe-se a utilização de recursos de fundos municipais específicos para custear aluguéis sociais e promover a produção de moradias temporárias ou definitivas, conforme a demanda por novas unidades residenciais. Apesar de concordar com as intervenções realizadas, percebo a falta de um plano detalhado e transparente, que explicite todas as dimensões do projeto e as áreas prioritárias de atuação. A divulgação clara da estratégia permitiria maior acompanhamento social, cobrança por novas medidas e ajustes necessários.
Há, sem dúvida, muito trabalho a ser feito, especialmente diante do aumento no número de pessoas vivendo em favelas e comunidades precárias, conforme aponta o último Censo.
É preciso, portanto, rejeitar a normalização de barracos improvisados como moradia — porque eles não o são. Assim como um viaduto não é lar, uma marquise não é abrigo, e a rua não é casa. A cidade deve ser um espaço de dignidade para todos.
*Esse texto reflete. exclusivamente, a opinião do autor.
via: diário do nordeste
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