Tema do movimento é Fraternidade e Ecologia Integral e deve motivar discussões em paróquias e grupos religiosos
O impacto das mudanças climáticas sobre o meio ambiente deve ser o tema desta década, diante dos alertas de cientistas sobre a irreversibilidade de alguns cenários. Além da esfera política e educacional, a preservação entra na esfera religiosa: a Campanha da Fraternidade 2025 da Igreja Católica reflete sobre os cuidados com a “casa comum”. A iniciativa foi lançada oficialmente em Fortaleza nesta quinta-feira (6).
Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Campanha de 2025 tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e lema “Deus viu que tudo era muito bom”, citação retirada do bíblico livro do Gênesis.
A preocupação com o meio ambiente do Ceará também perpassa a coordenação da Campanha, que chama a atenção para discussões recentes: a possível instalação de uma mina de urânio no município de Santa Quitéria; a aprovação da pulverização de agrotóxicos por drones; e a redução de áreas verdes em Fortaleza. No caso da usina de urânio, ainda não há definição. O Projeto Santa Quitéria prevê a exploração da Jazida de Itataia, no centro-norte do estado, onde há alta ocorrência associada de fosfato e urânio. Ainda neste mês, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deve apresentar o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do Projeto em audiências públicas.
“A gente considera que é muito preocupante a instalação dessa mina e a liberação dos órgãos para ela, então pedimos que tenham muita atenção, muito cuidado, muito zelo com a nossa casa comum”, explicou Patrícia Amorim, coordenadora regional da Equipe das Campanhas do Regional Nordeste 1 da CNBB, na coletiva de imprensa de lançamento.
Outro desafio citado por ela foi a autorização do Governo do Estado para a pulverização aérea de agrotóxicos por drones na agricultura. A alteração da legislação foi sancionada em dezembro de 2024 com a justificativa de modernizar o agronegócio cearense.
“Nós éramos referência nacional porque o Ceará era o único Estado brasileiro que proibia a pulverização de veneno aéreo. Infelizmente, hoje, o Estado está liberando”, lamentou. “A gente pede muito que essa atitude seja repensada para que a gente consiga realmente ter comida digna e saudável, alimento bom na nossa mesa”.
Como terceira urgência, ela citou a necessidade de multiplicação de áreas verdes na Capital. O Diário do Nordeste já mostrou estudos da Universidade Federal do Ceará (UFC) revelando que Fortaleza tem apenas 16% de áreas verdes remanescentes, e mesmo as que perduram não têm proteção oficial.
“A gente sabe que existem projetos que, infelizmente, tentam diminuir nossas áreas verdes, que já são tão pequenas. Entendemos que é muito importante mantê-las e, na verdade, ampliá-las”, defende Patrícia.
Para a coordenadora, a Campanha tem o papel de promover, “em tempos de urgente crise socioambiental”, um processo de conversão integral, “ouvindo o grito dos pobres e da terra”, que são “os que mais sofrem com as violações da nossa casa comum”. “Queremos verdadeiramente colaborar. Não apenas ver a ideia ser lançada, mas concretizá-la. O tempo urge, a natureza está gritando, em dores de parto, pedindo a nossa presença. A Igreja tem, por causa da palavra de Deus e do bem que nós desejamos realizar pela fé que carregamos, essa prática de ver as coisas transformadas”, ressalta.
O que desejamos é verdadeiramente uma conversão. Se nós amamos a Deus, amamos a vida em todos os sentidos.
Ações práticas
Entre as sugestões de ações para serem desenvolvidas no período de reflexão da Campanha, a Arquidiocese de Fortaleza pontua:
- incentivar a redução do uso de materiais descartáveis;
- implantar a coleta seletiva em espaços como igrejas, condomínios e supermercados;
- contribuir na revitalização de espaços urbanos, bairros, praças e vias;
- realizar romarias, caminhadas e peregrinações de reflexão;
- adotar um estilo de vida consciente e longe de tudo que degrada o meio ambiente.
Tema é tratado pela 9ª vez
Em 2025, a Campanha da Fraternidade chega à 61ª edição. Conforme levantamento da própria CNBB, Ecologia foi a questão mais tratada ao longo da história, tendo aparecido em oito anos anteriores. Veja os temas:
- 1979 - "Por um mundo mais humano" - "Preserve o que é de todos".
- 1986 - "Fraternidade e a Terra" - "Terra de Deus, terra de irmãos".
- 2002 - "Fraternidade e povos indígenas" - "Por uma terra sem males".
- 2004 - "Fraternidade e Água" - "Água, Fonte de Vida"
- 2007 - "Fraternidade e Amazônia" - "Vida e Missão neste chão"
- 2011 - "Fraternidade e a vida no Planeta" -"A criação geme em dores de parto" (Rm 8,22).
- 2016 - "Casa Comum, nossa responsabilidade" - "Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca" (Am 5,17).
- 2017 - "Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida" - "Cultivar e guardar a criação" (Gn 2,15).
O texto-base da Campanha atual é claro: “ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário”.
Coleta da Solidariedade
Anualmente, a Campanha da Fraternidade também busca angariar fundos para obras de caridade. Como gesto concreto, a Coleta Nacional da Solidariedade ocorre em todas as Igrejas Católicas brasileiras nas celebrações do Domingo de Ramos, este ano no dia 13 de abril (assim como nas missas da tarde do dia 12).
Do montante arrecadado, 60% permanecem em cada Arquidiocese, compondo o Fundo Arquidiocesano de Solidariedade (FAS), e os outros 40% são destinados ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que auxilia projetos sociais em todo o Brasil, a partir de Edital publicado pela CNBB no início do Tempo Pascal.
Segundo balanço da Arquidiocese de Fortaleza, a Coleta de 2024 arrecadou R$279,2 mil. Destes, cerca de R$111,7 mil foram para o Fundo Nacional, e R$167,5 mil permaneceram na região.
fonte; diário do nordeste
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