Um empresário cearense foi preso, nessa segunda-feira (7), em Brasília, por suspeita de ser o mandante de atos que visam expulsar moradores de uma comunidade tradicional em Tabubinha, na cidade de Beberibe, Litoral Leste do Estado, para construir uma usina eólica. O processo está sob sigilo, por isso o nome do investigado ainda não foi divulgado.
Segundo informações repassadas por uma fonte da Polícia Civil, ele teria tentado derrubar as casas dos moradores com um trator. O suspeito foi detido sob posse de R$ 500 mil em reais, dólares e euro apreendido. O homem é investigado por tentativa de homicídio e dano qualificado.
De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Ceará, que acompanha o caso, os moradores disseram que os ataques são feitos por homens encapuzados, normalmente durante a madrugada, por meio de máquinas para derrubar casas e afugentar a população. Cento e cinquenta pessoas vivem na comunidade tradicional a partir da pesca e da agricultura; eles ocupam a área há mais de 60 anos.
Segundo o órgão, o último atentado violento ocorreu em 30 de novembro, no qual moradores foram, inclusive, agredidos fisicamente. Em setembro deste ano, casas construídas foram demolidas pelos criminosos. Até o momento, conforme a Defensoria Pública, há cinco inquéritos policiais abertos sobre atos de violência na região para que a comunidade deixe suas residências.
De acordo com a supervisora do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC), da Defensoria, Mariana Lobo, os atos de violência são constantes. "Em setembro, a demolição só parou porque as pessoas se colocaram em frente a uma casa onde crianças dormiam. Então, uma tragédia pode acontecer a qualquer momento. Estamos acompanhando a questão junto às autoridades policiais do município, a fins de garantir e proteção e a integridade das famílias, a manutenção de posse e a reparação de danos”, ressaltou.
Conforme os levantamentos feitos pela Polícia Civil, foram registradas duas ocorrências recentes nas quais os homens armados teriam ido ao terreno onde os moradores possuem casa para derrubar as edificações, utilizando tratores. No fim de setembro, os criminosos derrubaram duas casas. O terceiro imóvel só não foi destruído porque a família se pôs à frente da edificação e impediu que o veículo passasse por cima da propriedade.
No início de dezembro, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o segundo ataque foi registrado. Desta vez, a terceira casa dos moradores era o alvo, mas, de novo, o bando armado não conseguiu demolir o imóvel. Em todas as ações, o grupo armado fazia questão de dizer que estavam a serviço do empresário, conforme apontam as investigações.
Vítimas
Um representante da comunidade, cuja identidade será preservada, afirmou à reportagem que os ataques do grupo criminoso já ocorrem há cerca de cinco anos, de formas espaçadas e em áreas diferentes da região. "Ele (o mandante) nunca vem, sempre são pessoas armadas, mascaradas. Ele sabe, é tudo arquitetado. Até por onde ele passa para as pessoas não verem e avisarem pra gente", narra.
O representante ressaltou que, em setembro, quando houve o primeiro ataque do ano, foram derrubadas duas casas que estavam em construção. Além disso, tentou-se demolir uma outra residência, na qual duas mulheres e duas crianças dormiam no momento do crime. "Acordei com pessoas gritando, aquela zoada alta de um veículo de grande porte. Eles já estavam derrubando. Imagine duas crianças vendo uma cena dessas?", questiona.
A força da comunidade, porém, segundo essa pessoa, foi suficiente para impedir a continuidade da ação. Eles se juntaram com outros moradores, ao passo que os homens mascarados atiravam para cima, na intenção de intimidá-los. Os habitantes do local, então, foram à delegacia do muncípio a fim de realizar um boletim de ocorrência.
"No começo, foi bem difícil. Não podia ouvir uma zoada que todo mundo já ficava alerta, principalmente na madrugada", explica. Na última ação, em 30 de novembro, o representante conta que os criminosos atiraram nas portas de moradores, agrediram uma senhora idosa e utilizaram spray de pimenta.
Com a prisão, porém, a sensação da comunidade é dúbia: "A gente fica feliz por ele estar preso, pagando por isso, mas fica apreensivo porque sabe que ele tem dinheiro, tem muita influência em cima de algumas pessoas. Isso pode ser bom pra gente, mas também pode ser ruim".
A Polícia Civil realiza coletiva de imprensa sobre o caso nesta terça-feira, às 15h.
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