Já imaginou morar num espaço de 10 m² e ter mais 500 vizinhos? Para um
brasileiro de classe média, pode parecer estranho, a princípio, mas um
"co-living" ou uma moradia coletiva, com um espaço privado pequeno e
espaços de uso compartilhado, é tendência em muitas cidades grandes do
Hemisfério Norte.
Londres tem o maior coliving do mundo: o The Collective Old Oak fica no
noroeste da cidade, tem dez andares onde moram 546 pessoas. A maioria é
de solteiros, mas tem alguns casais e uma única família: os brasileiros
Lucilia Wuillaume, seu marido Ricardo Esteves e a filha do casal, Anna
Clara Esteves.
Neste co-living, cada quarto tem de 10 a 25 m² e conta com um banheiro.
Uma cozinha minimalista é compartilhada com o vizinho de porta. Mas
cada andar conta com uma cozinha coletiva e outros espaços de interação,
que incluem serviços como lavanderia e sala de ginástica, além de salas
de jogos, biblioteca, salas de jantares e eventos, restaurante, espaço
de coworking, sauna, jardim, terraço externo e outros.
A ideia é usar o quarto só para dormir, já que todas as outras atividades podem ser realizadas em espaços coletivos.
As razões para optar por este estilo de vida são variadas. Segundo Reza
Merchant, CEO do The Colective Old Oak, o alto valor e a dificuldade de
firmar um contrato de aluguel são algumas delas, mas não só.
“Você sabe, em grandes cidades, a moradia vem se tornando impagável e
inacessível. O coliving oferece soluções de moradia para pessoas de
renda média. Outra questão é a solidão, que vem se tornando epidêmica,
em cidades como Londres. Para resolver este problema, criamos
comunidades, onde as pessoas possam se sentir parte de algo maior e
podem interagir, se conectar. Esta é uma necessidade humana, todo mundo
precisa se conectar.”
A família Wuillaume-Esteves veio para este coliving depois de morar
três anos em Paris. Eles querem passar uma temporada em Londres para
melhorar o inglês da família e ter outras oportunidades de trabalho.
Anna Clara tem 18 anos – idade mínima para morar neste coliving – e diz
estar satisfeita com a experiência.
“Eu achei que ia ser meio pequeno para os três, no começo, mas eu não
acho tanto porque eu fico pouco no meu quarto e aí eu saio com meus
amigos no prédio mesmo. Eu acho que o único problema daqui é que tem
tudo, então eu nunca saio daqui”, disse.
Anna Clara trabalha no restaurante do coliving. Tanto o restaurante
quanto a sala de ginástica ficam no térreo e são abertos para as pessoas
do bairro.
Para Lucilia Wuillaume, a principal vantagem do coliving é a
convivência, as amizades e laços que se formam entre os moradores.
“A convivência é muito mais tranquila do que se pode imaginar. As
pessoas sabem que estão vindo aqui viver juntamente com outras pessoas,
então já existe um cuidado. Elas têm vontade de conviver, já há esta
propensão. Claro que não é perfeito, sempre tem alguém que vai deixar
alguma coisa suja, fazer um pouquinho de barulho, mas é muito mais
tranquilo do que se pode imaginar", conta.
Lucilia disse que se sente mais acolhida vivendo no coliving do que nos anos em que morou em Paris, com a sua família.
“Eu fiz muitos mais amigos aqui do que em três anos em Paris, porque as
pessoas vêm aqui para conviver, para dividir, para compartilhar, para
ajudar. As pessoas se ajudam muito aqui, oferecem serviços, estão muito
disponíveis, vêm aqui para conhecer os outros, para viver de uma forma
diferente. Então é muito mais fácil você fazer amizade com pessoas que
estão com vontade de fazer amizade, estão com vontade de compartilhar”,
conta.
Para Ricardo Esteves, a maior vantagem do coliving são os novos amigos
que, muitas vezes, viram também parceiros de trabalho. "Na primeira
semana aqui, conheci um colombiano e passamos a trabalhar juntos."
Ricardo é fotógrafo profissional e orienta pessoas que querem entrar no
mundo da fotografia.
Outra vantagem, segundo ele, é o espaço de coworking, aberto 24 horas.
“Como sou tutor de fotógrafos em diversos países, como Brasil e
Austrália, muitas vezes eu preciso trabalhar de madrugada. Eu nunca
poderia fazer isso na minha casa em Paris, por causa dos vizinhos, e
também não encontraria um coworking aberto de madrugada. Aqui, basta eu
sair do quarto e ir trabalhar no coworking do prédio na hora que eu
quiser”, relata.
Gabriel Voto, morador e funcionário do coliving, é mestre em
Sustentabilidade e Liderança e trabalha com engajamento comunitário. “A
ideia é criar uma comunidade estável e saudável aqui no prédio. Morando
aqui, fica mais fácil entender os ganhos e as dores de quem opta por
viver em coliving”, conta.
“Este prédio é um microcosmo de Londres: a diversidade cultural que tem
aqui, com pessoas do mundo inteiro, é uma torre de Babel, e acho que a
gente tem conseguido criar um bom espírito de comunidade, apesar de não
ser fácil. Acho que, se funciona aqui, funciona no mundo inteiro”,
avalia.
Segundo a administração do The Collective, a média de idade dos
moradores é de 28 anos, mas tem gente de 18 a 60 anos. Cerca de 40% dos
560 locatários são de fora do Reino Unido. Para integrar tanta gente de
origens e costumes diferentes, o co-living promove de 20 a 30 eventos
toda semana. O tempo mínimo de permanência é de três meses.
Faça um comentário.