Dezesseis policiais civis são investigados por crimes como extorsão, corrupção passiva e tráfico de drogas
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08.12.2017
por Messias Borges - Repórter
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Os envolvidos conversavam, negociavam e marcavam os crimes principalmente pelo aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. O responsável pelo inquérito, delegado federal Gilmar Santos Lima, afirmou, em coletiva de imprensa no dia da deflagração da Operação, que a rede social, por conter mensagens "criptografas ponto a ponto", atrapalhou a investigação e impossibilitou que a PF chegasse ao número exato de ocorrências em que o grupo criminoso se envolveu, até aquele momento.
Entretanto, as interceptações telefônicas revelaram áudios relevantes à investigação, conforme apurou a reportagem. Em uma conversa no dia 16 de agosto deste ano, um inspetor conta que enganou um investigado, prometendo liberá-lo caso ele entregasse a "mercadoria". O homem entregou e, mesmo assim, foi detido. Outro inspetor indaga ao telefone: "Por que tu não pediu mais dinheiro então?".
No mesmo dia, um terceiro policial civil conversa com outro homem e cobra uma dívida de forma intimidadora: "Pois eu vou lhe encontrar e pegar em produto, porque você não vai ganhar em cima de mim, não".
Cinco dias depois, outro inspetor e um homem se referem a uma terceira pessoa. O policial afirma: "Vou cair pra cima dele mesmo agora com força. Dar uma chegada nele, ver onde tá esse sítio aí, pra ver se tem alguma enterrado, o que é que tem de coisa aí, ele tá com pescoço muito grosso". O homem responde: "É bom pessoalmente, para eu lhe dizer como é".
Conflito
A PF também investiga uma ocorrência de apreensão de drogas no bairro Padre Andrade, em Fortaleza, que resultou em um conflito entre a DCTD e o Batalhão de Policiamento e Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio), da Polícia Militar, pelo registro do flagrante.
Na tarde do dia 24 de agosto deste ano, uma equipe do BPRaio abordou dois adultos e um adolescente por suspeita de tráfico de drogas e encontrou maconha com o jovem. Neste momento, dois policiais civis da DCTD apareceram no local, afirmaram que dois dos suspeitos já vinham sendo investigados pela Especializada e pediram aos PMs que deixassem o flagrante ser realizado na DCTD, mesmo havendo um adolescente.
O comandante da equipe do Batalhão especial militar se negou a passar o flagrante. Pouco tempo depois, um delegado da DCTD liga várias vezes para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e tenta convencer a Polícia Militar de "liberar os meninos", o que também foi conhecido através das interceptações telefônicas.
Por fim, apenas o adolescente foi apreendido e um ato infracional foi registrado na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), enquanto os dois adultos foram liberados, sem ao menos serem ouvidos como testemunha da apreensão.
Câmeras
Outro levantamento feito pela PF que corroborou para a investigação contra os policiais civis se deu nas imagens geradas pelas câmeras de monitoramento do condomínio do português Carlos Miguel de Oliveira Pinheiro, que foi preso pela Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas, por comércio ilegal de anabolizantes, e fechou delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) para denunciar os agentes de segurança.
Na segunda detenção do português pela Especializada, em 2 de junho de 2016, homens com distintivos policiais foram à residência do suspeito duas vezes, segundo as imagens. A primeira diligência teria acontecido às 18h e terminado às 19h30. Às 23h30, o grupo voltou ao imóvel e saiu do local com uma sacola em mãos que, para a PF, representava uma quantidade de ilícitos superior à registrada oficialmente pela DCTD.
Nas diligências que realizou à residência de Carlos Miguel, os policiais ainda não permitiram que houvesse testemunhas. Um pedreiro afirmou à PF que, no dia 18 de maio de 2015, estava trabalhando no apartamento quando policiais chegaram sem se identificarem com carteiras funcionais ou distintivos e determinaram que ele e outros empregados saíssem do local. O português relatou na delação que foi preso naquele dia e que os policiais subtraíram anabolizantes e bens para eles próprios.
Já o porteiro do condomínio revelou aos investigadores que, no dia 16 de outubro de 2016, levou os policiais até a residência do português, que foi aberta por arrombamento. Em seguida, os agentes de segurança teriam determinado que o porteiro saísse do local enquanto eles realizavam buscas no imóvel.
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